O Brasil registrou um marco inédito no segundo trimestre de 2025: pela primeira vez desde o início da série histórica do IBGE, o abate de vacas superou o de bois. No período, o abate total de bovinos aumentou 3,9% em relação ao mesmo trimestre de 2024, confirmando a influência do ciclo pecuário sobre as decisões dos produtores.
Segundo o analista Felipe Fabbri, da Scot Consultoria, o movimento está ligado ao desestímulo à retenção de matrizes para a produção de bezerros. “Esse abate acelerado de fêmeas é reflexo do ciclo pecuário de preços. Desde 2023, o cenário tem sido de desestímulo à retenção de vacas e novilhas. Além disso, a alta recente da arroba estimulou ainda mais o descarte, já que muitos pecuaristas buscaram recompor o caixa”, explicou ao Canal Rural.
Produção de carne cresce menos que abates
Apesar da alta nos abates, a produção de carne subiu apenas 1,5% no primeiro semestre. A diferença é explicada pelo menor rendimento das carcaças femininas. “A carcaça da fêmea é menor e tem rendimento mais baixo que a do macho, o que limita o crescimento da produção”, detalhou Fabbri.
O aumento no abate de novilhas também foi puxado pelas exportações. Segundo Fabbri, esses animais atendem aos requisitos da China, hoje o principal destino da carne brasileira. “O México passou a ocupar a segunda posição entre os compradores, a Rússia voltou a comprar bem e a China nunca teve participação tão expressiva. Só entre julho e setembro, os chineses adquiriram mais de 158 mil toneladas mensais”, disse.
A Indonésia ampliou em 80% o número de frigoríficos brasileiros habilitados a exportar, enquanto o México negocia novas autorizações. Há ainda tratativas com Japão e Marrocos. Fabbri pondera que pode haver leve desaceleração nos embarques para a China em outubro devido a feriados locais, mas avalia que a demanda seguirá firme até o Ano Novo Lunar, no início de 2026.