INOVAÇÃO AGRÍCOLA

Trigo geneticamente modificado pode produzir seu próprio fertilizante

Universidade da Califórnia desenvolve trigo capaz de estimular a ação de bactérias fixadoras de nitrogênio

Trigo
Planta geneticamente modificada libera apigenina em excesso no solo (foto: Reprodução/Internet)

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Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Davis anunciaram o desenvolvimento de uma variedade de trigo geneticamente modificada com potencial para estimular a produção natural de seu próprio fertilizante. A inovação, publicada no Plant Biotechnology Journal, busca reduzir a dependência de fertilizantes nitrogenados sintéticos, amplamente utilizados na agricultura.

A equipe é liderada pelo professor Eduardo Blumwald, do Departamento de Ciências das Plantas. Os cientistas alteraram geneticamente o trigo para que ele produzisse grandes quantidades de apigenina, uma substância que a planta já gera naturalmente. O excedente é liberado no solo, onde induz bactérias a formarem biofilmes protetores, criando condições ideais para a fixação biológica de nitrogênio.

A enzima responsável por esse processo, a nitrogenase, só funciona em ambientes com pouco oxigênio. Os biofilmes criam esse ambiente, permitindo que as bactérias convertam o nitrogênio do ar em formas absorvíveis pelas raízes da planta. Nos testes, as plantas modificadas demonstraram maior produtividade mesmo com baixo uso de fertilizantes.

Diferente de outras abordagens anteriores, que tentavam imitar o sistema de nódulos radiculares das leguminosas, como feijão e ervilha, a nova técnica da UC Davis cria um ambiente favorável no solo, sem necessidade de alterar a morfologia da planta. O método também evita a manipulação direta das bactérias.

O trigo é o segundo cereal mais produzido no mundo e responde por cerca de 18% do consumo global de fertilizantes nitrogenados. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), menos da metade do fertilizante aplicado é efetivamente absorvido pelas plantas. O restante se dispersa no ambiente, contribuindo para poluição e emissões de gases, como o óxido nitroso.

De acordo com Blumwald, uma redução de apenas 10% no uso de fertilizantes nitrogenados nos Estados Unidos já poderia gerar mais de US$ 1 bilhão em economia anual, considerando a área total cultivada com cereais no país. A Universidade da Califórnia já solicitou patente da tecnologia, com apoio da Bayer e do Fundo Will Lester.

A pesquisa segue agora com foco na adaptação da tecnologia a outros cereais, como milho e arroz. O objetivo é criar soluções de baixo impacto ambiental e maior eficiência agronômica, aliando biotecnologia e sustentabilidade para responder aos desafios da agricultura moderna.

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