CRISE

Governo estuda fundo garantidor para destravar crédito rural em 2026

Diante de juros altos e inadimplência crescente, governo avalia criar fundo nacional inspirado em modelo usado na pandemia

Crédito rural
Governo avalia criar fundo garantidor nacional para o crédito rural (foto: Reprodução/Internet)

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Diante da dificuldade de acesso ao crédito rural por parte dos produtores, o governo federal estuda a criação de um fundo garantidor nacional para destravar os financiamentos voltados ao setor. A proposta foi apresentada pelo assessor especial do Ministério da Agricultura, Carlos Augustin, e discutida com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta terça-feira (11). O objetivo é evitar que as restrições atuais prejudiquem a produção da próxima safra.

Segundo Augustin, a ideia é inspirada em medidas adotadas durante a pandemia da Covid-19, como o fundo criado pelo BNDES para garantir crédito a empresas afetadas pelo lockdown. No caso do agro, o foco seria viabilizar recursos de custeio — usados para compra de insumos e manutenção das lavouras — em um cenário marcado por juros altos, endividamento e falta de garantias reais por parte dos produtores. A informação é do Valor.

Fundo poderá cobrir até 10% dos financiamentos garantidos

A proposta ainda está em fase inicial, mas o Ministério da Agricultura trabalha com a estimativa de que o fundo precise de aporte equivalente a 10% do valor que pretende garantir na ponta. Não há definição sobre os valores totais, mas a demanda anual por crédito de custeio no país gira em torno de R$ 1,3 trilhão. Atualmente, apenas um terço disso é atendido pelo sistema financeiro tradicional.

Outros terços vêm do mercado de capitais, tradings, fornecedores de insumos ou são bancados com recursos próprios dos produtores. Augustin informou que o governo precisará investir para viabilizar o fundo e que há sinalização positiva do Banco Mundial para colaborar no financiamento da estrutura. A medida também pode envolver a participação de agentes financeiros privados.

Inadimplência e renegociação de dívidas crescem no campo

Dados do Banco Central compilados pelo Ministério da Agricultura mostram que a inadimplência no crédito rural tem crescido. Em julho de 2025, 2,72% das operações estavam em atraso e 2,28% já inadimplentes — o dobro dos 1,2% registrados em julho de 2024. O saldo de operações renegociadas também subiu: chegou a 9,27%, ante 3,24% dois anos antes.

Em setembro de 2025, o saldo total de crédito rural no sistema financeiro era de R$ 810,4 bilhões. Desses, 2,78% estavam inadimplentes, 2,6% em atraso e 9,12% renegociados. Apesar de os índices ainda estarem dentro de patamares considerados controlados, o avanço expressivo preocupa o governo e acende alerta para a safra de 2026.

Safra cheia, mas com margens apertadas e risco para 2026

Mesmo com uma safra cheia em 2024/25, os preços das commodities não reagiram, o que espremeu as margens dos produtores e levou muitos a buscar renegociação de dívidas. O receio, segundo Augustin, é que para 2026 haja redução nas áreas plantadas e no nível tecnológico empregado nas lavouras, comprometendo a produtividade e a rentabilidade do setor.

A proposta do fundo será discutida com o Congresso Nacional e pode ser viabilizada por meio de um projeto de lei. Carlos Augustin deve conversar com o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), sobre caminhos legais para a implantação da medida.

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