O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) demonstrou preocupação com o avanço da aplicação da Lei de Reciprocidade, autorizada nesta sexta-feira (29) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A medida permite ao Itamaraty acionar a Câmara de Comércio Exterior para iniciar o processo de execução da legislação, em resposta a barreiras impostas por outros países, como os Estados Unidos.
Em nota oficial, o Cecafé classificou o movimento como prematuro e alertou para o risco de gerar obstáculos adicionais no diálogo entre empresas brasileiras e compradores norte-americanos de café. A entidade entende que ainda não houve uma negociação formal entre os governos e que o caminho mais adequado seria manter as conversas diplomáticas e técnicas com os Estados Unidos.
“O cenário necessário e mais coerente, nesse momento, é a manutenção do diálogo com o segmento privado e as autoridades dos EUA”, afirma o comunicado, assinado por Márcio Ferreira (presidente do Conselho Deliberativo), Marcos Matos (diretor-geral) e Eduardo Heron (diretor técnico). Segundo o Cecafé, a medida pode dificultar a interlocução com parceiros comerciais e prejudicar o setor exportador.
A entidade também destaca que participará, na próxima semana, de uma comitiva coordenada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) que cumprirá extensa agenda nos Estados Unidos. Entre os compromissos está uma audiência pública sobre a taxação de 50% imposta sobre produtos brasileiros pela Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA — ponto central das tensões entre os dois países.
Segundo o Cecafé, o objetivo da viagem é reforçar, com dados e informações, a relevância da cafeicultura brasileira nas relações comerciais entre os dois países. Os Estados Unidos são destino de 16% das exportações nacionais de café, o equivalente a cerca de um terço do mercado desses importadores, o que torna o país um parceiro estratégico para o setor.
O conselho teme que a iniciativa brasileira seja interpretada como provocação e abra espaço para retaliações adicionais do governo norte-americano. O grupo também critica a ausência do segmento dos cafés verdes (in natura) nas políticas de apoio anunciadas recentemente pelo governo federal, apesar da importância econômica e estratégica do setor.
“O Cecafé manifesta que o início desse processo, pode ter efeito contrário ao desejado pelo governo brasileiro, já que, ao invés de possibilitar um ambiente ‘normal’ para os compromissos do setor privado, deverá colocar a comitiva em um ambiente turbulento, com ânimos ainda mais exaltados, além de abrir a possibilidade para uma tréplica, uma nova retaliação do governo norte-americano”, alertou.