O governo da Argentina anunciou nesta terça-feira (9) mais uma redução nas alíquotas das “retenciones”, impostos cobrados sobre exportações de produtos agropecuários. A medida faz parte da estratégia do presidente Javier Milei para aliviar as restrições ao agronegócio e retomar a competitividade do país no mercado internacional. Esta é a quarta rodada de flexibilização anunciada desde o início do ano.
Com o novo corte, a alíquota sobre exportações de soja passa de 26% para 24%. Os derivados da soja, que pagavam 24,5%, agora terão imposto de 22,5%. No caso do trigo e da cevada, a redução é de 9,5% para 7,5%, enquanto milho e sorgo terão queda de 9,5% para 8,5%. O governo argentino espera arrecadar US$ 8,2 bilhões com os tributos em 2025, acima dos US$ 5,5 bilhões obtidos no ano anterior.
A decisão vem após uma série de ações semelhantes ao longo do ano. Em janeiro, houve uma redução temporária das alíquotas, depois transformada em permanente. O governo também ampliou os benefícios fiscais para a carne e, em setembro, chegou a suspender as retenciones até atingir um teto de US$ 7 bilhões comercializados, medida que durou apenas três dias.
Segundo o jornal Clarín, a arrecadação deve crescer devido à expectativa de uma produção maior e melhores preços internacionais em 2025. Mesmo com os cortes, o consultor Carlos Cogo avalia que a medida tem impacto limitado sobre a competitividade brasileira. “Não tem grande impacto para o Brasil, mas pode ser baixista sobre os futuros em Chicago”, afirmou ao Agro Estadão.
A análise se baseia na atual fraqueza das compras de soja americana pela China. Dados da consultoria indicam que, das 12 milhões de toneladas prometidas pelos chineses aos EUA, apenas 2,9 milhões foram efetivamente adquiridas até agora — 24% do total previsto. O ritmo lento das importações pode neutralizar ganhos recentes no mercado futuro.
Para Cogo, o movimento da Argentina tende a gerar algum efeito psicológico nos preços internacionais, mas não altera significativamente o cenário para os produtores brasileiros. A política de Milei sinaliza continuidade na abertura do mercado, embora enfrente resistência e oscilações internas nas decisões sobre o setor agroexportador.


